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Adaptações Neurais ao Treinamento de Força


O treinamento resistido com pesos (TRP) produz ajustes crônicos bastante conhecidos como hipertrofia muscular e melhor recrutamento neuromuscular. A magnitude dessas alterações é proporcional à manipulação das variáveis de treino como volume, intensidade, velocidade de execução e densidade.

Até a década de 1980 acreditava-se que o desenvolvimento da força muscular era determinado somente pela área de secção transversa (AST). Assim, o TRP era utilizado com fins de aumento da hipertrofia muscular. No entanto, com a evolução da ciência aplicada ao TRP foi possível identificar componentes neurais no desenvolvimento da força.

As adaptações neurais ao treinamento de força envolvem mecanismos inibitórios e desinibitórios, assim como melhorias na coordenação intra e intermuscular. A desinibição neurofisiológica diz respeito a:

Órgãos Tendionsos de Golgi (OTG): São receptores sensoriais, localizados próximos à junção miotendínea, que são responáveis por um reflexo de inibição da contração muscular quando o músculo é submetido a tensão excessiva (cargas muito altas, sem o devido processo adaptativo prévio). Esse reflexo pode acontecer em razão de encurtamento ou alongamento passivo.

Células de Renshaw: Neurônios inibitórios conectivos que se encontram na medula espinhal, cujo papel é amortecer a taxa de disparo dos motoneurônios alfa, prevenindo o dano muscular derivado da contração tetânica.

Sinais Inibitórios Supraespinhais: Sinais inibitórios conscientes e inconscientes que são enviados pelo cérebro.

A coordenação intramuscular é a capacidade de sincronizar o recrutamento dos músculos que são ativados para realizar um movimento. Seus componentes são:

Sincronização: A capacidade de contrair unidades motoras simultaneamente ou com o mínimo possível de latência (atraso menor que cinco milisegundos).

Recrutamento: Capacidade de recrutar unidades motoras simultaneamente.

Taxa de Codificação: Capacidade de aumentar a taxa de disparo das unidades motoras para exercer força muscular o mais rápido possível.

A melhora da coordenação intramuscular proporciona a transferência de um exercício para outro se os padrões de recrutamento neuromuscular são semelhantes. O treino de força com altas cargas (alto % de 1 Repetição Máxima) recruta muitas unidades motoras e pode proporcionar melhor execução de tarefas e nas habilidades esportivas específicas. 

Exemplos:

Agachamento >>>> Sprint na corrida
Arranco e Arremesso no Levantamento de Peso >>>>> Arremesso no Handebol

A coordenação intermuscular é a capacidade do sistema nervoso de coordenar os elos de ligação da cadeia cinética, tornando o gesto motor mais eficiente. À medida que o sistema nervoso aprende o gesto, menos unidades motoras são necessárias para mover a mesma carga, o que deixa mais unidades motoras disponíveis para serem recrutadas em cargas mais pesadas. 

Portanto, para aumentar o peso levantado em um determinado exercício a longo prazo, o treino de coordenação intermuscular (treinamento técnico) é essencial. No entanto, a coordenação intermuscular é muito específica do exercício, então a sua transferência para outros exercícios (incluindo os específicos da modelidade esportiva) é muito limitada. Mesmo assim, continua sendo a base para o desenvolvimento geral da força muscular.









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